terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O tempo da espera

A senhora sentada à minha frente ensaia um olhar distante, cansado pelo tempo que espera da vida a devida atenção. Os cabelos, longos, amarrados na nuca, brancos, cinzas, revelam o tamanho do tempo. Dentro do tênis de couro, muito branco, da saia preta, abaixo do joelho, da blusa em listas horizontais, coloridas demais, esconde-se a dona de um tempo preguiçoso que a faz bocejar. O sono discreto, apoiado na mão, revela um braço forte. A mulher tem no trabalho o companheiro de bodas. Agora, o menino é beijado, pequeno, aninhado. A avó sentada não é mais a senhora dos próprios olhos. Em silêncio, o menino reina. As duas mulheres, em reverência, continuam à espera do tempo. Em silêncio, revelam ao menino a frágil certeza de que Hermes não tarda.

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