segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sem atraso ou adiantamento

Como passou rápido esse tempo. Ontem, comprei-lhe overseas aquela lembrança. Era pequena...algo feito pelo homem para, em partes, organizar a vida, o dia-a-dia. Não deu tempo! Tentei, carreguei comigo todo tempo. Não deu o tempo! Dois atrasos. Dois adiamentos. Vários encontros. A vontade guardada para daqui a pouco, deixando-se seduzir pelo mais adiante. A semana que vem não vem mais. E agora, menina?! Quando faremos? Outro tempo. Será? Tudo, o novo, acontece ao amanhecer. Assim, será com o que ficou por ser. Esse é o tempo de desenhar um modo novo de organizar a vida, o dia-a-dia, a nossa meninice. Dessa vez, sendo por ser, no agora...sem atraso ou adiantamento.

Para Malu, com quem passaria muito mais tempo conversando sobre a vida, sobre os filhos e a dimensão sociointeracional da linguagem.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O tempo da espera

A senhora sentada à minha frente ensaia um olhar distante, cansado pelo tempo que espera da vida a devida atenção. Os cabelos, longos, amarrados na nuca, brancos, cinzas, revelam o tamanho do tempo. Dentro do tênis de couro, muito branco, da saia preta, abaixo do joelho, da blusa em listas horizontais, coloridas demais, esconde-se a dona de um tempo preguiçoso que a faz bocejar. O sono discreto, apoiado na mão, revela um braço forte. A mulher tem no trabalho o companheiro de bodas. Agora, o menino é beijado, pequeno, aninhado. A avó sentada não é mais a senhora dos próprios olhos. Em silêncio, o menino reina. As duas mulheres, em reverência, continuam à espera do tempo. Em silêncio, revelam ao menino a frágil certeza de que Hermes não tarda.

Ontem

A casa com quintal úmido, cheio de lodo. A família negra, o tocador de violão, o caixão. A morte primeira. O cheiro das flores e das cores que se escondem...o amarelo revelado na vida.